Another summer day
Has come and gone away
In Paris and Rome
But I wanna go home
Mmmmmmmm
Maybe surrounded by A million people
I Still feel all alone
I just wanna go home
Oh, I miss you, you know
And I’ve been keeping all the letters that I wrote to you
Each one a line or two
“I’m fine baby, how are you?”
Well I would send them but I know that it’s just not enough
My words were cold and flat
And you deserve more than that
Another aeroplane
Another sunny place
I’m lucky I know
But I wanna go home
Mmmm, I’ve got to go home
Let me go home
I’m just too far from where you are
I wanna come home
And I feel just like I’m living someone else’s life
It’s like I just stepped outside
When everything was going right
And I know just why you could not
Come along with me 'Cause this was not your dream
But you always believed in me
Another winter day has come
And gone away In even Paris and Rome
And I wanna go home
Let me go home
And I’m surrounded by A million people
I Still feel all alone
Oh, let me go home
Oh, I miss you, you know
Let me go home
I’ve had my run Baby,
I’m done I gotta go home
Let me go home
It will all be all right
I’ll be home tonight
I’m coming back home
(Home, Michael Bublé)
Tom Jobim escreveu e cantou o Samba de Avião, mas eu, com a devida vénia ao mestre, prefiro pensar na minha vida como uma valsa de aviões. Há pouco mais de uma semana, meti-me num para atravessar o Atlântico. Fui contrariado. Logo eu que já tive como meta primeira na vida ser um andarilho. Andar de um lado para o outro. Sem amarras. Sem vínculos.
Já perdi a conta aos aviões que apanhei; às almofadas de todos os tamanhos, feitios e consistências onde encostei a cabeça; aos lençóis, com e sem fios de algodão egípcio, que me cobriram; às toalhas felpudas e menos felpudas em que enxuguei o meu corpo; aos lobbies de hotel onde me deixei ficar, a ver a vida passar; às pessoas que entraram na minha vida para dela saírem logo a seguir; aos cafés sensaborões que bebi para cumprir o ritual da bica (expresso) após as refeições; às piscinas onde brinquei aos ricos; ao dinheiro que gastei por não resistir ao impulso; às horas que perdi e ganhei com a troca dos fusos horários… Uma vida recheada de viagens, de partidas e chegadas. A vida que pedi a Deus. Não me posso queixar, eu sei, mas será que me percebem se vos disser que, não assim tão de repente, tudo isso perdeu parte da sua magia e que me dei conta de que já não é bem disto de que preciso para ser feliz? Chamem-me maluco se quiserem… assim como assim, já me habituei à ideia de não me fazer entender.
Embarquei algo contrariado, já vos disse, mas fui. Afinal, pagam-me para isso. No check in, agradeci o facto de me terem dado um assento afastado dos meus companheiros de viagem. Não estava para conversas. Mandei às urtigas uma das minhas regras de ouro e misturei álcool com altitude. Soube-me bem aquele vinho tinto. Matei as horas do voo a ler, a escrever e a dormir. Nunca tive problemas em dormir a bordo. Cheguei à hora prevista. A adaptação do costume. As conversas de circunstância do costume. Um programa intenso pela frente. Respirei fundo, desliguei o ar condicionado e abri a janela do meu quarto para deixar entrar a brisa morna daquele Inverno com cheiro a Verão. Nas noites e manhãs seguintes, adormeci e acordei com o murmurinhar das ondas contra as rochas. Estava na cidade, mas com o mar aos meus pés.
A viagem força o convívio. Ainda bem. Se assim não fosse, não teria, provavelmente, feito grande esforço para conhecer os meus colegas. Revelaram-se em poucas horas uma agradável surpresa e só não digo que se tornaram amigos porque já ando há tempo suficiente nisto para saber que, nesta vida de itinerância, raros são os afectos que resistem ao embate do regresso à normalidade. Mas foi importante para mim voltar a experimentar este sentimento de camaradagem. Quem já viajou a trabalho, não me deixa mentir: os homens, de uma forma geral, têm tendência, quando em matilha, de se comportar como garanhões no cio. Isso sempre me incomodou. Desta vez, não foi excepção, mas não me senti constrangido ou contrafeito em momento algum. Diverti-me a valer (bebi muito, dancei muito, ri muito e até flirtei um pouco) e apreciei o companheirismo deles. E foi bom para mim poder comprovar algo que nunca quis perder: eu quero relacionar-me com as pessoas, homens ou mulheres, pelo que elas são e não em função de com quem dormem. Não gosto de guetos. Sou avesso a rótulos.
Esgota-se a semana, chega a hora da despedida, trocam-se cartões no aeroporto com os nossos anfitriões. Já passei por isso tantas vezes, mas não custa entrar no faz-de-conta. O mais certo é não tornar a vê-los. Avião de retorno. Desta vez, agradeço o facto de ter ao meu lado, durante o voo, um dos meus companheiros de viagem. Conversamos e rimos. As horas passam mais rápido. Pego num jornal português para saber as últimas e leio um dos cronistas do jornal Diário de Notícias citar, a propósito da Marcha Gay que decorreu na minha ausência, um filósofo francês: “Não confesso que sou gay, porque não há mal nenhum nisso; não proclamo que sou gay, porque não vejo motivo de orgulho; digo que sou gay, simplesmente porque o sou.” Fico a pensar no assunto. Aterro em Lisboa. É uma manhã de Verão, mas ressinto-me da aragem fresca. Cada um vai para o seu lado, mas antes, claro, trocamos números de telefone. Só um de nós insiste na ideia de nos juntarmos uma noite destas para um copo. Dizemos que sim, mas todos sabemos que, não sendo impossível, não será provável. Apanho um táxi. Vejo a cidade espreguiçar-se pela janela.
Entro em casa. Não desfaço as malas, que permanecem fechadas. Passo os olhos pela correspondência amontoada. Como é dia, escureço o quarto para iludir o sono. Aninho-me na cama que é minha. Acordo muitas horas depois. Abro o computador, verifico os e-mails. Detenho-me nas mensagens de duas pessoas recentes na minha vida, mas que já fazem parte dela. Uma delas, a quem fiquei a dever um telefonema, quer saber como tudo correu; diz-me que sentiu a minha falta. A outra, na minha ausência, mostra-me que isto de bem-querer a alguém ― e estou a falar de bem-querer sem necessidade de etiquetas nem de pressupostos ― não pode ficar apenas pelas intenções, há coisas que precisam ser ditas.
O bom do regresso a casa é também isto: a constatação de que certas coisas e que certas pessoas, aquelas que realmente importam e de quem sentimos falta, continuam no lugar de sempre, à nossa espera. I’ve missed you too. É bom estar de volta.
9 comentários:
E é bom ter-te de volta!
Feito o balanço, parece que correu tudo bem =)
=)
Feliz regresso!
Sê pois bem-vindo de novo ao convívio que, embora sem rostos, não deixa por isso de ter alma. «You've been missed too, no doubt about that...»
Abraço! :-)
Nossa... que surpresa boa!!! Você voltou!!! Seja muito bem-vindo!!!
Interessante isso... engraçado como algumas pessoas entram e saem da nossa vida rapidamente, como num passe de mágica!!! Um das minhas "nóias" tem a ver com isso... quanta gente neste mundo que eu sequer vou chegar a conhecer... quanta gente especial, estranha, esquisita, indispensável e cheia de manias que eu jamais desvendarei... material humano, pessoas... é o que há de mais rico neste mundo!!! Além daquelas que por algum tempo parecem tão presentes e tão necessárias e depois acabamos por nem mais lembrá-las!!! Sorte que algumas ficam!!!!
Sabe que eu também, dia desses, recebi um e-mail que me fez sentir especial... coisa boa essa, né? Se sentir especial para alguém... ou melhor: ter alguém que nos julgue espcial. Tem coisas que não têm preço mesmo!
Um abraço - feliz pelo seu retorno!
QUE BOOOOOM!!! Com todo mundo indo embora é muito bom celebrar o retorno de outrem!
Sei bem o seu sentimento em relação à vida que pediu a deus e as viagens. Muito bom viajar, mas é essencial voltar pra casa.
BEIJO!
Adorei a frase do filósofo...
Pois já sabia do teu regresso pela agradável visita que me fizeste no blog.
Como tu dizes, e bem, é bom sentirmos num regresso, de alguma forma, que a nossa ausência foi notada.
É isso que aqui te deixo, foi estranho, durante uns dias, passar no teu blog e ver o mesmo post, sentir a falta de um ou outro comentário; por isso é muito bom , sentir-te de volta, e em forma, pois a tua análise à tua viagem , está muito bem descrita.
Abraço.
É bom tê-lo de volta meu amigo! Com saudades já estava.
É muito bom quando sentem nossa falta, reclamam de nossa ausência. Algumas vezes sinto falta disso.
Bjs
Bem, deixa-me dizer que escreves com uma fluidez fantástica e tão absorvente que contagias qualquer mente de leitor mais distraido. Não gostei, amei! A rotina não é agradável em nenhuma situação e aquilo que dizes acredito mesmo que o sintas. Na verdade, nunca somos 100% felizes no que fazemos, mas cabe-nos ultrapassar certos dissabores do quotidiano e agarrar com toda a força os pequenos e leves momentos da felicidade... Bom regresso, espero mesmo que regresses sempre com espirito leve e com grande ânimo. Um abraço forte e os meus parabéns pels subtileza com que expões o teu ponto de vista tão poético. Adorei!
Olá Grande Mágico!
Feliz em tê-lo novamente por perto. Esta semana estou "de castigo", preciso terminar um trabalho até amanhã, por ainda não dei maiores noticias...
Adorei o post, pelo jeito a viagem foi interessante, Abração.
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