18.5.07

A manhã seguinte-Parte I


My heart was blinded by you.
I've kissed your lips and held your hand.

Shared your dreams and shared your bed.

I know you well, I know your smell.

I've been addicted to you.

Goodbye my lover.
Goodbye my friend.

You have been the one.

You have been the one for me.

(Goodbye my lover, James Blunt)


Pela janela mal fechada, vislumbrou a primeira luz do dia. Não tardaria muito a amanhecer. Reconheceu o barulho de um autocarro a passar na rua. Ia começar a espreguiçar-se lentamente, como sempre fazia ao despertar, mas conteve-se a tempo. Não queria acordá-lo. O outro estava deitado de lado, de costas voltadas. Pelo barulho da sua respiração ronronante, adivinhou que ainda dormia profundamente. Melhor assim, pensou.

Deslizou o seu corpo tão devagar quanto possível, até ficar de barriga para cima, a olhar para o tecto. Estranhara a cama, a almofada, tudo. Não estava no seu elemento. Tinha esse problema, o de nunca conseguir dormir bem numa cama que não fosse a sua. O certo teria sido partir mais cedo, mas as coisas precipitaram-se de tal forma que não teve como escapar antes. Por sua vontade, teriam ido para um sítio neutro, um qualquer quarto de uma pensão rasca, paga à hora, mas o outro não aceitou nenhum dos seus argumentos e insistiu em trazê-lo para a sua casa. Das duas, uma: era um inconsequente ou, pior, um daqueles tolos ingénuos, tão carentes de companhia, que estão mesmo dispostos a abrir mão da sua intimidade com um tipo que mal conhecem. Sentiu um leve tremor de desprezo a percorrer-lhe o corpo. Tinha de sair dali o mais depressa possível.

Como um prisioneiro de guerra, começou a engendrar a sua táctica de fuga sem levantar suspeitas. Com os olhos já habituados à semi-penumbra do quarto ― ele só conseguia dormir na escuridão total, mas deu graças por os cortinados terem ficado entreabertos ―, varreu tudo até ficar familiarizado com a geografia do lugar. Era um quarto relativamente acanhado ― aliás, como o resto do apartamento, do pouco que se recordava de ter visto na véspera ―, mas agradável. Paredes nuas, à excepção de uma enorme fotografia a preto e branco, que não lhe era totalmente estranha, pendurada por cima da sua cabeça. Para além da cama de casal, onde se encontravam, um cadeirão de verga junto à janela, uma pilha de livros de arte a servir de mesa-de-cabeceira do seu lado e um roupeiro que ocupava uma parede inteira, sem portas, onde podia ver roupa, sapatos, CD’s, uma aparelhagem Hi-Fi, e mais livros… A disposição da parca mobília e a forma como as coisas estavam arrumadas denunciavam uma intenção, uma ordem. Não tinha dúvidas, ao seu lado dormia um tipo meticuloso.

Aliás, dava-se agora conta que as únicas peças fora do lugar eram as suas roupas ― e só mesmo elas, porque, para sua enorme surpresa, apercebia-se disso naquele exacto momento, as roupas do outro estavam dobradas sobre o cadeirão (como é que conseguira fazer isso, sem que ele se desse conta, no calor do momento, haveria de permanecer um mistério) ―, despidas à pressa, pois, lembrava-se bem, tinha chegado ali consumido pela tesão, louco para jogar o outro na cama e saciar a sua fome.

Nisto, detectou o primeiro erro que lhe poderia sair caro. Tinha ficado do lado da janela e o outro dormia voltado para a porta, o que aumentava em muito as probabilidades de vir a ser apanhado em flagrante quando se preparasse para sair de fininho. Quase deixou escapar um “Merda!” sonoro, mas engoliu em seco. Como se tivesse pressentido a sua crescente agitação, o outro mexeu-se. Ele paralisou. Felizmente, o outro deixou-se ficar onde estava; apenas se aninhou. Parecia uma criança. Pela primeira vez desde que acordara, olhou-o com atenção. O seu corpo nu havia escapado quase por completo ao lençol, pelo que estava à sua mercê. Admirou-lhe as costas lisas, mas um feixe de luz, vindo da janela, pousava sobre elas e revelava uma fina penugem escura, que em nada diminuía o encanto da sua pele bronzeada. O seu pescoço, que tinha beijado com sofreguidão, era esguio, coroado por uma melena escura, onde ele tinha afundado os seus dedos e sentido a réstia de perfume, pousada em desalinho sobre a fronha amarrotada. As nádegas, que o tinham deixado enlouquecido ainda antes de as possuir, eram firmes e bem delineadas, tal como as suas pernas, que estavam dobradas.

Não os viu da posição em que se encontrava, mas lembrou-se também dos seus pés. Tinha um verdadeiro fascínio por pés masculinos, pelo que os seus amantes podiam sempre contar com uma atenção especial a essa parte tão injustamente esquecida nos jogos de cama, e que ele tanto gostava de massajar e de beijar. Alguns, e não podia deixar de sorrir quando se lembrava disso, reagiam com estranheza a essa sua predilecção e mostravam-se quase desconfiados. Não sabiam o que perdiam! Mas o outro tinha reagido muito bem aos estímulos da sua língua.
(continua...)

12 comentários:

Poison disse...

Hummm...
Serei o primeiro? Que honra... hehe!!!
Ótimo texto, como de costume, não é mesmo! Ando meio correndo por isso tenho comentado menos do que gostaria, mas sempre leio!!! Qto aos posts passados: adoro essa música do Lenine e seu amigo tem razão em te indicar ao Thinking Blogger Award, com certeza!!!
Abraços e apareça!!!

Mi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Espero pela próximo capitulo!
Adorei!
:)

Anónimo disse...

Espero pela próximo capitulo!
Adorei!
:)

disse...

Espero pelo próximo capitulo com curiosidade!

Abraços e bom Domingo Oz!

Anónimo disse...

Ficticio?

ficou bom :D gostei, bamos ver a continuação ;)


grande abraço Oz

MrTBear disse...

Olá. Vim retribuir e agradecer a visita.
Gostei muito, voltarei sempre que o tempo o possibilite...
Abraço.
Boa semana

Moura ao Luar disse...

Ai eu adoro que me mexam nos péssss hum é tão bom

Latinha disse...

Realmente você é o Mágico de Oz!

Belo texto, mais do que bem escrito a narrativa é envolvente, sedutora... impossível não me sentir espiando a cena de um canto do quarto.

Oz, você e teu amigo merecem um premio, teu textos sempre foram muito bons, e apesar de leves seus textos sempre nos levam a reflexões. Parabéns!

Bom... que essa semana uma semana muito boa para você!!! Grande abraço!

Will disse...

Falta o próximo capítulo caro Oz...

Anónimo disse...

Ai, que caloire!!

Mi disse...

Vou aguardar a continuação desta ficção (ou não) com alguma expectativa, confesso!

Boa semana! :-)