16.5.07

O braço-de-ferro


Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa

A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal

Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder

E quem quer saber

A vida é tão rara (Tão rara)

(Paciência, Lenine e Dudu Falcão)


Dizem que saber esperar é uma virtude. Será? Se assim for, não serei o mais virtuoso dos homens. Não que seja totalmente impaciente ou irascível ― até sou paciente demais, comigo sobretudo, quando se trata de empurrar com a barriga decisões que há muito deveriam ter sido tomadas… ―, mas continuo a ferver em pouca água e a perder o prumo com facilidade. Ser paciente não é fácil. Não é mesmo nada fácil.

Dizem que a idade nos traz outra calma, outra maturidade. Será? Acho que sim. A mim, pelo menos, noto que me deu outro jogo de cintura para lidar com situações difíceis de (di)gerir. Ouvir um NÃO, por exemplo. Ninguém gosta de ouvir um NÃO, mas, com o tempo, aprendemos que NÃO é, necessariamente, o fim do mundo. Um NÃO pode ser contrariado, contestado, mas perceber (e aceitar) um NÃO definitivo é, sem dúvida, um acto de inteligência e de maturidade. Há coisas pelas quais vale a pena lutar, esbracejar até, se for preciso; outras que são pura perda de energia e que estão condenadas a acabar sem glória e, pior, sem razão. Nos dias que correm, eu prefiro mil vezes ouvir um NÃO assumido e justificado do que um sim enganador, dito da boca p'ra fora por quem não tem tomates (coragem) para dizer logo NÃO.

Há dias encontrei alguém que não soube acatar o meu NÃO. Alguém que se expôs, talvez, mais do que devia, que forçou uma situação muito para lá do razoável e que não soube parar a tempo. Poderíamos ter ficado amigos. Aliás, convinha termos ficado, no mínimo, bons colegas, pois nada garante que a vida não nos volte a juntar numa outra viagem de trabalho. Viu-me e só não me ignorou por completo porque não podia. Acho que confundiu recusa com desprezo. Gostaria de lhe dizer ― quem sabe um dia ― que ser rejeitado não é, de facto, agradável ― sei-o por experiência própria ―, mas também não é, necessariamente, um atentado à nossa dignidade. É o que dá confundir amor-próprio com orgulho ― quando feridos, o primeiro faz com que vejamos apenas o problema em nós, mas o segundo faz com que vejamos apenas o problema no(s) outro(s).

Dizem que a ilusão é meio caminho andado para a desilusão. Será? A ser verdade, parece-me triste a sina de quem vive sem ilusão… Mas estou tentado a concordar que a ilusão precisa de freio. Nem a mais, nem a menos. Na medida certa. É por esta, e por outras, que já estou a tratar de ser mais modesto nas minhas aspirações (não quer dizer que tenha deixado de ter critério, okay?). Agora, sempre que me flagro a lançar o anzol a quem está fora do meu alcance, trato logo de começar a puxar o meu barco. Não é preciso ficar, sistematicamente, fora de pé para encontrarmos aquilo que buscamos. Fiz isso a minha vida toda… Cansei-me de morrer na praia.

-------------------------------------------------------



Este blogue comemora hoje dois meses. O Maurice, que leio e admiro, resolveu incluir-me num grupo que, segundo ele, merece o Thinking Blogger Award. Esta é uma iniciativa que já circula há algum tempo na blogosfera e que consiste em eleger blogues de que gostamos e que nos fazem pensar. Sou um pouco avesso a estes “prémios”, mas não sou ingrato. Apreciei o gesto, que agradeço humildemente, e que vale, sobretudo, pelo facto de estar a conseguir interagir com outras pessoas ― o perigo de um blogue confessional como o meu é o de acabarmos fechados numa concha, onde só ouvimos o nosso próprio eco. Seria da praxe eu dar continuidade ao ciclo, apontando também os meus favoritos. Pois são todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão aqui ao lado (e não só). Sintam-se, por isso, devidamente distinguidos.

9 comentários:

BlueBob disse...

Olá Oz, olha eu de novo sendo o primeiro a comentar no post de aniversário!!!

Com certeza a maturidade nos dá esse jogo de cintura para lidar com situações como a que você descreveu. Eu percebo isso. Já aconteceu de, recentemente, receber um não e digeri numa boa. É lógico que surge aquele diabinho te dizendo pra reagir mal a isso, bater de frente com o "não", mas vc sabe como exorciza-lo e agir da maneira que a ocasião pede.

É merecida a indicação ao Thinking Blogger Award (não conhecia isso). Teu blog é um dos meus favoritos e te considero uma pessoa sensata e que já me fez pensar (ou repensar) em muitas depois de passar por aqui.

Um beijo, meu amigo

Anónimo disse...


Oi, querido. O tempo realmente vai ensinando-nos algumas coisas. Agora, por exemplo, estou sentado en frente a este computador, durante mais de meia hora estive conversando com um cara por telefone. Sua conversa girava em torna da possibilidade de nos conhecermos e de que pra ele sexo só interessa se ele tem admiração pelo cara com quem ele está. Só sei que estou zonzo com tudo. Saí de casa hj pra ir assistir uma palestra com Arnaldo Antunes e de lá prentendia encontra-lo e transar com ele. Não, pudemos nos ver, mas na conversa por telefone ele deixou bem claro que antes vamos nos conhecer e depois é que poderá acontecer alguma coisa. Meu plano B para a noite era passar no Jardim e descola alguma transa, só que no caminho eu desisti. Não sei pq, mas não sentia mais a necessidade. Não estou encantado por ele. Estou mais incomodado com uma situação que eu não poderei manipular.
Não sei, acho que não sou mais o mesmo.

Abraços.

PS: Faz um favo?! Me linka!

Pralaya disse...

Com calma tudo se resolve. E é super importante saber aceitar um NÃO, mais do que saber lidar com um SIM.

Will disse...

Também já tive dificuldades em lidar com um não... custou tanto. E também já tive dificuldades em dizer não e a fazer compreender alguém a aceitar esse não: entre as duas situações não sei qual a pior...

Moura ao Luar disse...

Minino a gente tem que aprender com a vida né, vamos dando cabeçadas e quem quer aprende quem nao quer nao aprende. Mas olha cada um sabe de si, nos ao longo da vida de alguma forma somos professores mas só de quem quiser aprender, assim como seremos sempre alunos a partir do momento em que tenhamos a humildade e a inteligência para perceber que temos sempre algo a aprender

Anónimo disse...


Oi querido, brigadão pelo link.
E por tudo o que vc escreve, posso dizer com toda a certeza que você é um dos melhores blogayroz desse mundo virtual.

Abraços!!

Anónimo disse...

Já fui muito de me iludir, Ozinho. Digo, passando do limite. Hoje procuro mais esse equilíbrio de que você escreveu, porque viver sem sonhar realmente é muito triste! Mas nada a ferro e fogo, também. Se é pra quebrar a cara, que sirva pra gente aprender a fazer plástica nela, uai!

Beijo!

FOXX disse...

aff qntos temas
mas desde qndo empurrar com a barriga é ter paciência? eh fugir... naum encarar... naum fazer o q tem q ser feito...

aprender a ouvir dizer um naum realmente é dificil, e aprender a separar recusa de desprezo é ainda mais dificil. nao sei fazer isso...

Anónimo disse...

Caro amigo
como sabes estive fora e estou agora a ler o que foi por aí escrito...
daí o desfazamento deste comentário, que apenas pretende dizer que, para mim, pior que um NÃO, claro será um falso sim, mas também um muito usual TALVEZ. Nunca gostei de ficar na dúvida...