30.4.07

A partilha



Tough, you think you’ve got the stuff
You’re telling me and anyone

You’re hard enough

You don’t have to put up a fight

You don’t have to always be right

Let me take some of the punches

For you tonight

Listen to me now
I need to let you know

You don’t have to go it alone

(…)

And it’s you when I look in the mirror
And it’s you that makes it hard to let go

Sometimes you can’t make it on your own

Sometimes you can’t make it

Best you can do is to fake it

Sometimes you can’t make it on your own

(Sometimes You Can't Make It On Your Own, U2)


Foi preciso chegar até aqui para enxergar o óbvio. E não estou a falar de sexualidade nem de desejo. Vai muito além disso, podem acreditar. Estou a falar de partilha. Dou-me conta, finalmente, de que nunca vou ter uma relação plena se continuar a insistir no que tomei como padrão.

Recuo no tempo e não percebo de onde me vem esta fobia ― quase um pavor doentio ― à exposição, à vulnerabilidade, a mostrar-me ao outro sem pudor. Só sei que não me lembro de ter sido diferente alguma vez. Ignoro realmente o que me levou a isto. Acho que tenho feito tudo para me antecipar à dor, à desilusão. Porquê não sei, nunca fui um fraco, mas só um cobarde vive pela metade.

Ergui barreiras de protecção, vejo-o hoje nitidamente, como medida de prevenção e não como reacção a algo de concreto. Quis convencer-me que era uma atitude perfeitamente legítima, a de querer preservar-me a todo o custo, mas onde antes via sensatez, agora só vislumbro egoísmo. Pus-me a salvo de grandes dissabores amorosos, é certo, mas, em contrapartida, também me esquivei a muita coisa que merecia a pena ser vivida. Ter medo de ser infeliz é meio caminho andado para não sermos felizes. Não por inteiro, pelo menos.

No inventário do amor, não há grandes perdas a lamentar, mas também não há grandes feitos a celebrar. Um balanço equilibrado, ilusório porque me fez acreditar que, garantida a minha paz de espírito, ficaria livre para viver tudo o resto intensamente. Puro engano.

Fiz do “nunca exijas aos outros o que não lhes podes dar” o meu estandarte. Iludi-me que estava a ser justo ao nunca exigir mais do que podia, ou queria, dar. A partilha, a verdadeira partilha, é bem mais do que isso. É dar e receber, é certo, mas é também estar disposto a dar mais do que o outro nos pediu. É ter a grandeza de nos mostrarmos despidos, sem artifícios, sem reservas, sem lugares de sombra e, sobretudo, sem medo de agarrar a mão que nos é estendida quando estamos no chão.

O medo de sermos rejeitados, de não sermos compreendidos, de não sermos amados como achamos que merecemos faz parte da vida, mas o medo não tem meias medidas. Medo a menos torna-nos inconsequentes. Medo a mais torna-nos seres incompletos. E quem quer viver pela metade?

17 comentários:

Latinha disse...

Oz,

Bem-vindo ao meu mundo!
E de certa forma acredito que isso esta vinculado ao seu post sobre dualidade.

A timidez, a insegurança quanto ao meu corpo, talvez até um pouco de auto-estima e as dúvidas sobre sexualidade, me levaram a construir barreiras ao meu redor. Acreditei que poderia me virar bem sozinho, amargo engano... Hoje sinto-me perdido, sinto-me a deriva.

Mas o importante é tivemos a lucidez para perceber isso e agora estamos procurando nosso "Norte". Tenho confiança que ainda seremos felizes e saberemos que entre erros e acerto fizemos o nosso melhor.

Abração Amigo! Bom início de semana para ti.

Will disse...

Ninguém meu caro Oz... ninguém.

Moura ao Luar disse...

Isso mesmo, às vezes o medo de nos magoarmos leva-nos a protegermo-nos a nós mesmos e acabamos por sofrer ainda mais. É preciso ter consciência do que queremos e de até onde temos de ir para alcançá-lo

Anónimo disse...

Talvez tenhas dito aqui, aquilo que tantas vezes quis dizer e fugiram-me, certamente, as palavras correctas. Adorei a forma directa com que expuseste os teus medos... Todos temos os nossos. Agora, cabe-nos lutar diariamente contra o medo de arriscar, de avançar, de querer mais... Nunca desistas e deixes a meio uma ideia tua, simplesmente porque o medo se atravessou no teu caminho. Um abraço sentido, amigo!

disse...

Por vezes mais vale arriscar tudo, caso contrário corremos o risco de a outra parte se entregar da mesma forma 'controlada' e nada daí advir!
E acabar sempre por ficar na dúvida, se teria ou não resultado...

Temos que nos mostrar como somos e não como gostariamos que os outros nos vissem...

Apenas estamos a arriscar a nossa felicidade, mesmo que por vezes nos possa trazer dissabores!

Abraços Zé.

Unknown disse...

Amigooooooooooooo! Posso falar? Tá passando da hora de vc abrir a porta dessa tua gaiola de ouro!!!! Saia para voar!
Beijos, cherry!

BlueBob disse...

É Oz, não dá para viver a vida pela metade, isso temos que concordar. Desculpe, mas hj não estou para muitas palavras.

Bom feriado

Bjs

Blog Jotha Design disse...

Cara, acho que esta na hora de vc viver...

abração

Anónimo disse...

Até que enfim, amigo!
Não alcançar uma felicidade, com medo de ser infeliz, é quase masoquismo, não é egoísmo.
Vale mais tarde que nunca.
Força, amigo Oz.
Abraço.

Anónimo disse...

Não quero viver a vida pela metade, mas tb não sei/não quero ultrapassar os medos!

E Agora!?...Tb não sei!

Abraço!

Anónimo disse...

Sem pressas, meu amigo. Já está de bom tamanho que esteja se abrindo conosco. É um primeiro passo. Logo, darás os próximos. Tenho certeza disso!

Râzi disse...

Menino... vc é um poeta...

Caramba... eu cheguei a ficar emocionado, menino...

Sabe, essa coisa de entrega é um faca de dois gumes... se vc se entrega demais, está se expondo ao sofrimento... se não se entrega, não vive...

O meu problema é que nem sexo eu consigo fazer se não tiver confiança.. e confiança a gente só adquire se entregando, testando, vendo onde vai...

Eu não posso usar carapaças, senão não vivo... então adoto a técnica dos 2%.

Essa é uma reserva emocional que mantenho à parte do relacionamento. É como se fosse uma pequena âncora, com a qual eu posso me guiar e me recosntruir, depois da tempestade do término...

Vou fazer 3 anos com o Lê... e as vezes me assusta ver que eu abri mão até desses 2%...

Beijão...

Unknown disse...

been there, done that and bought the lousy t-shirt!
caro oz, tb andei por aí e só há bem pouco tempo que vim de lá

Mi disse...

Quando acabei de ler o teu post, veio-me à cabeça as palavras de Miguel Torga (ñ me perguntes porquê, sim?) ; "...os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade(...) de nenhum fruto queiras só metade".

Saudações!

BinhoSampa disse...

Cara, acho que vc deve viver sem neuras e ser feliz, enjoy a lot.

Liberdade é tudo!!!!

Abs e Inté.

Anónimo disse...

O que é a felicidade? Defina isso e logo recomece tudo de novo. Pq estar preucupado (obcecado) em se estar feliz já é meio caminho andado para não ser feliz.

Confundo me contigo: eu quero, acho que é a única coisa que posso querer, ter um coração sincero que sinta tudo o que se pode sentir. Só não quero perder essa capacidade de me perceber sentindo a novidade de um sentimento novo, seja ele amor, ou simples dor.

Sei que Amar, nem sempre é um exercício que se realiza acompanhado. As vezes é, apenas, uma experiência solitária; mas talvez por isso mesmo, por ser só sua e intransferivel, seja ela ainda mais sublime e necessária.

Por favor, permita-se sentir tudo, só não torture o seu coração.

Chorei do começo ao fim das tuas palavras... confundo o que sentes com o que sinto, não sei o que sinto. O que vc sente?

Oz disse...

Menino G:
Quem ficou atrapalhado com o teu comentário, agora, fui eu... Vamos lá ver se consigo estar à altura da tua sensibilidade. Tenho uns bons anos a mais do que tu, mas tu já viveste coisas que eu ainda não vivi e eu outras que tu ainda não viviveste, mas este post aqui não é sobre ser gay ou não, é sobre sentimento e entrega.
Posso parecer um ser algo atormentado, já que passo a vida aqui a levantar mil e uma dúvidas e a pôr em causa muitas coisas que tomei como certas até agora, mas garanto-te que sou um homem extremamente positivo e de bem com a vida. Aliás, sempre fui.
Estou a viver uma fase de auto-descoberta, mas talvez até por ter uma certa maturidade, estou a vivê-la sem sobressaltos, sem dramas e o facto é que, hoje, a ideia de me envolver com um homem parece-me natural.
Mas já que cheguei até aqui e que estou a abrir-me a coisas novas, seria um desperdício da minha parte não aproveitar para rever também certos comportamentos meus. E sim, eu hoje consigo ver que me fechei demasiaso a certas coisas e que houve pessoas e situações a quem eu não dei a menor chance só porque estava muito seguro de mim. Hoje vejo de forma diferente. Mas isto não ter a ver com o facto de estar sozinho ou não. Nada disso. Ter medo de ficar sozinho, só por si, não nos deve levar a baixar as defesas ou a abdicar dos nossos princípios, como tantos fazem, porque assim achamos que os outros vão querer ficar connosco. No meu caso, trata-se, acima de tudo, de prestar mais atenção a quem está à minha volta e de ser mais generoso com quem se aproxima.
Como não sei se vens aqui ler esta minha resposta, vou colocá-la também no teu blogue.
Um grande abraço para ti!