16.4.07

Agora


Sit down, give me your hand
I'm gonna tell you the future

I see you, living happily
With somebody who really suits you

Someone like me

(Love Show, Skye)


Nunca fui obcecado com o futuro. Sempre me preocupei mais em viver o presente. Por isso, porque é o presente que me importa, dificilmente faria como Corto Maltese, o marinheiro errante, que, certo dia, deixou uma cigana ler-lhe a sina na palma da mão esquerda ― consta que a cigana se benzeu três vezes, horrorizada, ao aperceber-se que a sua mão não apresentava linha da sorte, pelo que Corto não foi de meias medidas e, a primeira coisa que fez quando chegou a casa, foi pegar numa navalha e, zás, de um golpe certeiro traçou a sua própria linha da sorte. Mas também eu, tal como Corto, não sou homem para aceitar aquilo que me calha em sorte sem espernear. Faço questão de traçar os meus caminhos. De assumir as minhas escolhas. Não serei mais feliz ou mais bem sucedido por isso, mas, ao menos, terei o consolo de não ter sido um mero peão e de ter ousado escrever, reescrever se for preciso, uma, duas, três vezes, as vezes que forem precisas, sempre na tentativa de acertar, a história da minha vida.

Faz hoje um mês que abri as portas deste blogue. Num espaço tão curto de tempo, e só pelo simples facto de ter verbalizado certas coisas e de ter sido obrigado a repensar muitas outras, já fiz avanços incríveis. Encaro o que estiver para vir com grande naturalidade. Sem culpa. Sem drama. Sem necessidade de me justificar ou explicar.

Pela primeira vez, acho eu, estou a permitir que a minha sexualidade se torne o eixo da minha vida. Concedo-lhe esta prerrogativa porque acho importante que assim seja neste momento, mas quero acreditar que, em breve, ela voltará a ser apenas um dos eixos e não O eixo. Nunca quis viver em função da minha orientação sexual. Não quero que ela passe a determinar o que faço, com quem faço e onde faço. A minha personalidade é o somatório de muitas coisas. A sexualidade é apenas uma delas. Tal como nunca fui Oz, o hetero, também não quero ser Oz, o paneleiro (viado). Apenas Oz. Sem rótulos. Sem guetos.

Cada vez menos preciso da bissexualidade como muleta. Se tiver que ser gay, serei. Já aqui disse e repito: como teoria acho a bissexualidade uma ideia sedutora, mas, na prática, vejo-a como uma solução de compromisso e não como uma decorrência natural. Posso estar errado, mas parece-me que, cada vez mais, até podemos ser bissexuais por curiosidade durante um tempo, mas só se torna efectivamente bissexual quem o faz por necessidade ou incapacidade de assumir aquilo que realmente o realiza.

Neste espaço de tempo, já conheci algumas pessoas interessantes. Conhecer é uma força de expressão, claro está. Já fiz confidências, já ouvi desabafos. Nalguns casos, com as devidas precauções e limites, até me atrevi a reduzir o grau de anonimato. Para muito poucos, pouquíssimos, passei a ser mais do que uma personagem sem rosto e sem nome próprio.

Tive boas surpresas ― a maioria delas já está ao alcance de um simples clique ―, terei ainda outras, estou certo disso. Também já tive algumas desilusões ― gente a quem despachei com um simples clique, dessa feita no delete. Cheguei à conclusão que há pessoas boas de se ler, mas que não estão abertas ao diálogo e não vêem mais do que o seu umbigo. E como há egos inflamados na blogosfera!

Já não me irrito mais com a separação de águas entre machos alfa e machos ómega. Para quem gosta de citações bíblicas, aqui vai uma de Jesus: “Sou alfa e ómega. Sou o princípio e o fim!” Eu acrescento: se puder ser alfa e ómega, por que raio hei-de eu querer limitar-me a ser uma só coisa?! Para bons entendedores, estas palavras bastam.

Há pouco tempo, alguém que esteve na origem deste “despertar” acusou-me de ter imensa dificuldade em comprometer-me. É verdade. Mas talvez por isso mesmo, por saber que não me comprometo facilmente, tenho sempre muito cuidado com o que digo, sobretudo em não prometer coisas da boca para fora. Foi por isso que acreditei quando te despediste, invariavelmente, com um “até amanhã!”. Acreditei e fiquei à espera. Em vão. Até hoje.
Nem de propósito, deixo-te o refrão de uma canção dos Rádio Macau que me acompanha desde há muito:

Dizes-me até amanhã
que tem de ser, que te vais
porque o amanhã, sabes bem
é sempre longe demais

Acendo mais um cigarro
invento mil ideais
só que amanhã sei-o bem
é sempre longe demais

É uma pena, mas amanhã pode mesmo estar, no nosso caso, longe demais. E eu, já o disse, prefiro viver o agora.

17 comentários:

BlueBob disse...

Oz, como é a vida não? Fui o 1º a comentar no seu blog e agora o 1º a comentar no aniversário de um mês! Seria só coincidência?

Realmente, pude ver como vc avançou neste um mês. Ou melhor, como avançamos, todos nós juntos. Com velocidades diferentes, tudo bem.
Realmente chega uma hora em que temos de nos dicidir; ser bissexual é só uma parada passageira. Cedo ou tarde acaba assumindo de vez o que sempre foi e deixa de usar a condição de bissexual como desculpa.
E foi tambem certeiro em detectar os egos inflados que existem poraqui. Não merecem um até amanhã!

Boa semana

Bjs

Oz disse...

Caro Bob, realmente na vida nem tudo são coincidências. É sempre bom ver-te por aqui.

Superfunky disse...

Eu tambem concordo ctg... é bom não tirar os olhos do futuro, mas essencialmente viver todos os momentos do presente!

Will disse...

Muitos parabéns: pelo blog e pela determinação!

Continuarei a passar por aqui =)

Pralaya disse...

Realmente cada vez que conheço mais pessoas é incrivel ver como todos somos um pouco semelhates se não as vezes iguais. Claro que existe e existira sempre grandes diferenças. Fico contente por ver alguém que a pouco iniciou os passos de mudança na vida mas no entanto vive no presente. é dificil mas também se tudo for facil nao merece a pena o esforco.

Moura ao Luar disse...

Por vezes a impaciencia joga contra nos... eu sei o que é nao querer esperar pelo amanha, sou impaciente, quando quero uma coisa e vejo que posso ter logo fico a pensar para que esperar... as vezes esperar um pouco ajuda-nos a saber dar valor :-)

FOXX disse...

amigo
bom saber de seu crescimento...

mas temos q saber que as vezes
somos carregados pela correnteza
sem ter mto o que fazer...

Anónimo disse...

Dedico a musiquinha do vídeo, então, ao aniversário do seu blog! :-) Uá, uá, uá!

Você demonstra uma personalidade incrível, sem deixar-se aprisionar por rótulos, idéias, conceitos de outrem (que os ouviu ainda de outro e os repete sem refletir). Isso é sensacional e um passo maior do que muitos jamais darão.

Um prazer acompanhar seu crescimento. Ou nosso, como disse bluebob. Porque crescemos ao te ler.

Râzi disse...

É engraçado! Vc é a primeira pessoa que tem a mesma opinião que a minha sobre a bissexualidade!!!

Cara, gostei muito do que li!!!!

Eu vou te adicionar no MSN, posso??

Beijão!

Oz disse...

Ricardo, podes, sem problema. Até lá!

BinhoSampa disse...

Cara, legal o que vc escreveu sobre a bissexualidade.
Em qualquer outro caminho sempre haverá o alfa e o ômega.É bom saber que não faz distinção.

Abs e Inté.

Mi disse...

Muitos Parabéns!

Não há dúvida que isto é uma experiência muito peculiar.
É um novo mundo de descobertas - interiores e exteriores...

Espero que seja o 1º mês de muitos mais.
:-)

BinhoSampa disse...

Sobre o seu comentário, também pensava que não podia existir algo sério entre dois homens, porque sempre achei que somos safados e infiéis. Mas depois de conhecer um cara especial, percebi que isso é possível.

Abs e Inté.
Valeu pela visita

DE CORPO E ALMA disse...

Comecei a acompanhar este teu blog desde muito cedo. Para mim a liberdade de cada um é o valor mais importante do Homem, sou parco em julgamentos e critico-me a mim antes de qualquer outro.
Direi apenas que este é o teu melhor post sobretudo porque ele denúncia finalmente o que os outros prenunciavam.
Deixa-me dizer-te apenas mais uma coisa, fazes bem em não viver em função da tua sexualidade. As pessoas não se reduzem a impulsos sexuais, ser gente é muito mais do que isso e tens razão há por aí muito menino que reduz a sua vida à gaveta sexual esquecendo-se de viver e de ser tudo o resto.
Não deixes que falsos auto-preconceitos te impessam de aproveitar a vida em toda a sua plenitude.
Um grande abraço e os meus parabéns por esta declaração de intenções.

Oz disse...

Evito interferir muito nos comentários, até porque, sempre que possível, faço também questão de comentar nos blogues de quem me visita e fica assim assegurada a troca de ideias.
Mas como o dia foi especial e muito dos comentários aqui deixados foram muito gentis (aliás sempre têm sido), resolvi abrir uma excepção para agradecer a presença de todos.
Se o meu blogue, ainda imberbe, tem algum mérito é o de exprimir aquilo que realmente penso. Umas vezes acerto, outras erro, mas nunca deixo de dizer aquilo que estou a pensar no momento. Para o bem e para o mal.
Um abraço para todos os que já vieram e para os que ainda hão-de vir.

Anónimo disse...

Amigo Oz
conheço-te há pouco tempo de aqui, do teu blog, é evidente. E tenho-me surpreendido contigo, muito positivamente, pois não é fácil a exposição de ideias, coceitos e opções que muitos espíritos ainda não aceitam e rotulam negativamente.
És decerto jovem, e tens uma vida inteira para saber o melhor caminho a trilhar, mas pela determinação com que te vais abrindo ao mundo, estás acima de tudo a conhecer-te melhor a ti próprio e tu só serás feliz se estiveres bem contigo.
Parabéns pelo teu blog, parabéns por este édito, tão cheio de força e de personalidade, mesmo com algumas arestas de dúvidas ( normais) para limar.
Tens em mim um amigo.
Um abraço de quem optou, e é feliz por tê-lo feito; e que encontrou o amor, no meio de tanta coisa menos boa que por aí há, mas há sempre alguém que vale a pena, acredita.

Anónimo disse...

Oz,
Parabéns pelo mês de blogosfera!
És uma leitura viciante|
Adorei este post!
Revi-me em algumas passagens!
A Vida faz-se no presente, olhando para o futuro e relembrando o passado!
Abraço!

(...só mais uma coisinha...Rádio Macau...pessoalmente Adoro!)