28.3.07

Xeque-mate


What a wicked game you play
To make me feel this way
What a wicked thing to do
To let me dream of you
What a wicked thing to say
You never felt this way
What a wicked thing to do
To make me dream of you
(Wicked Game, Chris Isaak)


Para que não julguem que sou um tremendo chato, um tipo atormentado por dúvidas, mergulhado em incertezas e apenas preocupado em esmiuçar tudo ao mais pequeno detalhe ― já pintei um quadro suficientemente sinistro da minha personalidade? ―, hoje vou escrever um post mais lúdico.

No amor, mas sobretudo no sexo, gosto de jogos de sedução. Só não gosto de jogos onde não conheço as regras. Dispenso igualmente os que tendem a prolongar-se indefinidamente. Ai, canso-me rápido e perco o interesse. O jogo do gato e do rato, por exemplo, tem os seus encantos, não o nego, mas não é excepção. Há um tempo certo para ser jogado. Parar no momento certo é uma arte que poucos dominam. Eu, inclusive.

A minha predilecção por jogos de sedução tem a ver, provavelmente, com o facto de gostar de me sentir desafiado, espicaçado, estimulado. Não gosto de facilidade. Posso até gostar de pessoas fáceis, mas ai já vai depender muito das pessoas em questão e do adiantado da hora.

Os jogos sem contra-cena são menos interessantes. A cantiga do bandido não é para mim. Nunca tive grande jeito para “dar em cima”. Por um lado, falta-me a persistência e, mais do que isso, não consigo libertar-me do sentido de ridículo. Se calhar estou a ser parvo, mas o que querem, para mim todos os engatatões de serviço (paqueradores), além de lata, têm uma tremenda falta de sentido do ridículo. Só assim compreendo que não sintam vergonha das barbaridades a que recorrem quando querem “levar água ao seu moinho” ― recordo-me sempre de amigos, versados nessa matéria, e de os ficar a observar, atónito, a dar conversa a certas mulheres. Talvez por ser também homem, acho sempre a “cantada” do mais óbvio possível, mas o certo é que a grande maioria das mulheres embarca mesmo nessa “conversa para boi dormir”!

Reconheço que sou preguiçoso e cobarde no acto da conquista e isso é fatal. Prefiro que se dêem ao trabalho de me tentar seduzir, assim, além de não arriscar a rejeição, ainda me posso dar ao luxo de ser eu a ter a última palavra. Okay, admito que não é muito nobre da minha parte… Mas também nunca disse, façam-me o favor, que era, ou que queria ser, perfeito.

É por isso que gosto do jogo do gato e do rato. Em princípio, os papéis estão bem definidos, mas nada impede que, a dada altura, não se invertam. E mesmo que não, todos sabemos que um rato esperto pode fazer a vida negra a um gato.

Até hoje só joguei este jogo com mulheres. Minto. Joguei-o uma única vez com um homem. Mas a coisa não correu bem. Quer dizer, até começou bem, com as devidas provocações mútuas, o toca-e-foge, as insinuações, um a querer levar a melhor, o outro a não querer levar a pior. Só que, lá está, o jogo prolongou-se para além do recomendado e quem queria ganhar, não ganhou. Quem não queria perder, não perdeu. Nada pior para o jogo do gato e do rato do que terminar num impasse.

No caso em questão, o jogo emperrou na falta de vontade de um em continuar a jogo e na frustração do outro por não saber mais o que fazer para se manter no mesmo. Cancelada a partida, para salvar a face, os dois jogadores voltaram a ser apenas dois homens. Não mais cúmplices, mas dois machos em competição. Cada um a demarcar o seu território.

Agora estou a aprender a jogar noutro plano, ou ainda ninguém reparou que muitas das conversas com estranhos no msn não passam disso mesmo, de jogos do gato e do rato? Quem fará xeque-mate?

14 comentários:

Anónimo disse...

Jogo...
...desafio.
...divertimento.
...enleio.
...manha.
...sagacidade.
...aposta.
...trocadilho.

Aceites as regras, porquê não jogar?

Quanto a resultados...prognósticos só no final do jogo! (onde já ouvi isto?)

Saudaçoes!
S.

Anónimo disse...

Me confesso fascinado com sua escrita e em estar te descobrindo. Claro que eu poderia ter dito "confesso-me" e ter concordado melhor "teus" e "seus", mas o português mais "de raiz" é contigo. Agradeço a visita, que me inspirou a pensar em melhorar minha página-perfil. Pra situar os recém-chegados, visto que têm aparecido bastantes deles. Vamos ver.
Beijo!

Moura ao Luar disse...

Eu adoro jogar mas concordo contigo, tudo tem um limite e o que é demais enjoa...

Anónimo disse...

Por ter sido a inspiração para o jogo (que ninguém se interessou em brincar ainda), te passo o caminho para o coelho branco: do lado de Perversões existe um pontinho. É ali.

Beijo!

Latinha disse...

Merci, mon ami!

Passei rapidinho para agradecer o post e dizer que tenho apenas passado o olho pelo seu blog e estou muito curioso, gostei bastante do jeito que você escreve. O desaparecimento é por conta do trabalho, estou trabalhando igual "gente grande" esses últimos dias, mas nos próximos dias eu to de volta.

Grande abraço para você!

Em tempo, posso adicioná-lo no MSN?!

Oz disse...

Olá Tin Man, sim, sem problema.
Abraço.

Anónimo disse...

Brigado pela visita, meu amigo! Pois é... interessante a gente ver como outras pessoas lidam com a sua sexualidade, né? Eu achava que todo mundo que era gay nascia gay e sabia disso, mas aprendi cedo na vida que generalização até ajuda, mas não cobre todas as possibilidades.
"chove-não-molha" é como usamos a expressão por aqui (aliás, gosto bastante quando você "traduz" seu português para "brasileiro"!). :-)

Beijo!

Beijo!

Râzi disse...

Ih, rapaz... sabe, eu não gosto muito de jogos! Todo tipo de dissimulação e cena me cansam! Até podem existir, mas se durarem mais que três minutos, jé me encheu o saco!!!

Eu sou uma pessoa que quer pouco as coisas... digo, eu não sou de ficar tendo desejos desenfreados.. mas quando eu quero algo, eu vou direto ao ponto, se rodeios, sem tipos, sem dissimulações! Eu vou e tasco a letra! Se colar, colou! Se não, eu insisto! E insisto! E insisto!

Demorou nada menos que 4 meses até que eu conseguisse fazer com que o Lê concordasse em me namorar!

Beijão, e bons jogos!

:D

Dawson disse...

Tenho uma amiga minha que sempre diz que na vida estamos sempre jogando! Pra ela tudo é um jogo. Inclusive o amor.

Bom, se é eu não sei. Mas acho que eu não sei jogar muito bem não viu? Rsrs

Oz, acho muito legal o teu português rebuscado. Me tira uma dúvida, a maioria das pessoas em Portugal escreve assim como você?

Abraço,

Dawson disse...

Meu Deus, fui ler o comment após publicado e olha que frase horrível e redundante eu escrevi:

"Tenho uma amiga minha que sempre diz que na vida estamos sempre jogando!"

Logo no Blog do Oz!!! rsrsrs

Perdão querido pelo meu pobre português aqui manifestado.

Abração!

Oz disse...

Dawson:
Confesso que estou um pouco corado com o teu elogio em relação ao português. É um facto que o português daqui é diferente do Brasil, tirando isso há também uma diferença e que é a seguinte: a vossa liguagem, mesmo a escrita, é mais informal e aproxima-se mais da forma oral. Eu gosto muito de escrever, e também o faço profissionalmente, o que ajuda.
Este é o meu estilo, mas avisa-me -avisem-me, é válido para todos que aqui passam e deixam os seus comentários - se os meus textos estiverem a ficar muito chatos ou pesados, aqui a ideia não é ser de todo pedante. Espero não estar a passar essa imagem.
Abraço.

Anónimo disse...

Olá!!!

http://www.rrosas.blogger.com.br/index.html

Ronaldo Santos disse...

Olá!

Te encontrei lá no Edu!
Muito boa a forma de escrever!

E também adoro jogos, mas é claro... com as regras bem claras!

Se não...

Grande abraço!

Até mais.

FOXX disse...

"mas ai já vai depender muito das pessoas em questão e do adiantado da hora"


adorei essa frase...