26.7.07

Amanhã


On the floating, shipless, oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.
And you sang "Sail to me, sail to me,
Let me enfold you."
Here I am, here I am
waiting to hold you.

(…)
Here me sing: "Swim to me, swim to me,
Let me enfold you."
Here I am, here I am
waiting to hold you."

(Song to the Siren, por This Mortal Coil, escutar aqui)


As primeiras férias a dois. Como é que se chega até aqui? A pergunta pode parecer óbvia. A resposta, de tão evidente, será talvez desnecessária. Afinal, as coisas simplesmente acontecem. Ponto. Dispensam explicação.

Assim fosse eu dado a aceitar as coisas, mesmo as mais óbvias, de ânimo leve. Minto. Capaz até sou, depende é muito da situação. Basta não estar particularmente interessado na resposta, e ai é garantido que não vou sequer dar-me ao trabalho de fazer a pergunta.

Não é este o caso. Estou é a chegar à conclusão de que, em matéria de emoções, nem tudo precisa de ser dissecado nem visto à lupa para ser compreendido. Às vezes, basta, por mais estranho ou até mesmo difícil que nos possa parecer por falta de hábito, sentir e deixar a vida seguir o seu curso. Até porque ela nos permite, quase sempre, emendar a trajectória e fazer ajustes se for caso disso.

Por isso, resolvi relaxar e permitir-me aproveitar este momento. Sem fazer muitas perguntas. Não por não estar interessado nas respostas, mas por saber que, no seu devido tempo, elas virão. O segredo, parece-me, está em saber esperar.

Tudo estaria bem, não fosse um pequeno, mas enorme, detalhe que faz toda a diferença: não estou nisto sozinho. Há mais alguém. Alguém a quem o meu aparente excesso de segurança pode provocar insegurança. Alguém que pode interpretar as minhas não perguntas e as minhas não respostas não como um sinal de crença, mas sim de profunda descrença.

Apercebo-me, então, que, quando a dois, não dependo mais só de mim. Que não posso mais só contar comigo. Há mais alguém. Alguém que preciso levar em consideração. Alguém que preciso escutar. Consultar.

É que, mais do que apenas ter músicas, filmes, passagens de livros em comum, fazer rir o outro, rir com o outro, rir um com o outro, saber que ele não come carne de porco mas adora sushi, ser capaz de achar com os olhos fechados uma pinta no rosto ou uma marca de nascença no corpo, prever as suas mudanças de humor ou descobrir de que lado da cama gosta de dormir, a construção de uma relação passa por aprender a ter o outro, e as suas necessidades, em atenção.

Eu diria mesmo que só ganhamos, para valer, consciência da importância do outro nas nossas vidas não quando passamos a sonhar (às vezes até acordados) com ele, mas sim a partir do momento em que estamos dispostos a rever as nossas prioridades e as nossas posições ― o que pode até implicar fazer perguntas e dar respostas que, à partida, para nós não seriam fundamentais, não naquele instante pelo menos. E fazemo-lo não por uma questão de cedência ou de anulação a favor do outro, mas, tão-só, porque para ele é importante esse voto de confiança, esse gesto.

E assim se chega, quase sem darmos por isso, ao momento de planear umas férias a dois. Porque foi inevitável. Não, mais uma vez, por se tratar de um teste para saber se eu prefiro a cidade e ele a praia, se eu gosto de colchão duro e ele mole, se eu sou arrumado e ele desarrumado, se eu puxo sempre o autoclismo (descarga) e ele deixa a tampa da sanita (privada) aberta. Isso, por mais irritantes que nos possam parecer na hora, são apenas detalhes tão pequenos de nós dois.

Passar férias juntos não é, ou não deveria ser, um jogo de (in)compatibilidades. Prefiro, de longe, encará-las como mais um passo no aprendizado que é estar a dois.

12 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com absolutamente tudo o que você escreveu. Mas se ele apertar o tubo da pasta de dentes no meio, aí acabou!! :-)

Beijo!

Anónimo disse...

P.S.: Bom te ler de novo!

Pralaya disse...

Bom passo o de férias a dois desfrutar da companhia e tentar compreender melhor as qualidades e defeitos da outra pessoa, como dizes aprender e ensinar tudo o que poderá ser bom ou mau numa relação. Boas férias e diviertam-se... muito...

Râzi disse...

Hauahauahuaahu! Ai, meu lindo, eu imagino como deve ser difícil sair do individual incontestável para o duplo inconstante!!! Eu digo que imagino porque essa condição já me é estranha!!! Ahuahauahuah!

Eu namorei durante três anos. E foi um namoro tipo casamento, porque eu ficava 5 dos sete dias na casa dela... os outros dois ela ficava comigo, na minha mães! Ai casamos e ficamos mais seis anos juntos! Separei-me, mas nem um gostinha da solteirice eu experimentei! Emendei com o Lê e já estamos juntos há três anos! Mas oficialmente fazemos três anos agora, dia 13 de agosto! Somando-se tudo, são 12 anos de vida em comum!

Tudo isso que vc escreveu como sendo parte da adaptação, é minha realidade! O que me seria difícil seria estar sozinho, não decidir em conjunto ( mas não imagine que dou dependente apenas!)e não ter alguém pra me preocupar!!

Meu padeiro, e vc, não aparece pelo Brasil?

Beijão!

Unknown disse...

Amigoooooooooo! Blz? Olha, to torcendo por ti, viu? Super força! Ah, meu novo post tá no ar, passa lá! Beijos!

Will disse...

É um passo tão doce. Deve ser saboreado, caro Oz...

RIC disse...

Se incompatibilidades fundamentais houvesse, férias conjuntas seriam o tira-teimas definitivo. Já aconteceu comigo, tanto no caso de amigos como de relações a dois. É a situação-limite por excelência, creio.
Quanto ao resto, são meros detalhes que um dia valorizamos mais que noutro, só isso. E quantas vezes nos deixamos arrastar por ninharias que, com alguma sensibilidade e atenção, não passariam disso mesmo: ninharias...
Abraço! :-)

BlueBob disse...

Olá amigo Oz!

Férias sempre é bom. A dois então . . . é ótimo! Ainda mais quando se está na fase de se conhecer, testar as fronteiras um do outro, aprendizado mesmo, como vc falou. Sorte amigo!

Bjs

Latinha disse...

Ao ler o começo do seu post, meu primeiro impulso foi pensar que o mais difícil (pelo menos no meu caso) já se passou!

Há situações em que devemos confiar em nossos sentimentos, deixar o coração assumir o controle e fazer com que a razão "descanse" um pouco. Quanto a ser mal interpretado, é tudo uma questão de se ater ao básico... dizer o que se pensa, sem medos. Muitas vezes o medo de ser indelicado ou magoar acaba por situações ainda mais confusas.

Prefiro acreditar que passar férias a dois, além de uma excelente oportunidade de viver é também um exercício de conhecimento, de nós mesmos e do outro. E não se esqueça do mais importante... é férias!! ;-)

Um saudoso abraço meu amigo!

(Bom final de semana!!!)

Poison disse...

Nossa... que legal!!!
Férias a dois e tudo mais?!?

Você pelo visto faz a linha daqueles que chamamos aqui no Brasil de "come-quieto"... hehehe!!! Fica na sua e quando menos espera nos faz uma revelação dessas?!?

Mas que legal mesmo. Espero que vcs curtam bastante. Esse tipo de experiência sempre acrescenta!!! Agora, cá entre nós, pobre do infeliz que algum dia queria passar férias comigo: sou um "pé no saco"... hahahahaha!!!!

Abraços e muita sorte pra vcs!!!!

João Visionário disse...

este comentário deixa-me feliz e orgulhoso, sabes porquê? porque eu faço uma coisa que dizes no texto e que considero de uma profunda importãncia: além de sonhar acordado, todos os dias, com o meu filipe, com a vida que estamos a construir com muita dificuldade e naquilo que ele me traz de bom, por outro lado também me analiso, penso no que devo fazer, deixar de fazer e agir em conformidade com aquilo que ele é enquanto pessoa.
numa relação não podemos ser arrogantes ao ponto de sermos sempre fieis a nós próprios pois o mais importante para que tudo corra bem e se solidifique é a capacidade de encaixe e as concessões que vão sendo feitas de modo a adaptarmo-nos um ao outro.
fazemo-las em campos diferentes e tentamos estar sempre alerta para o que é preciso... fico feliz porque ambos pensamos deste modo e, por isso, o nosso amor tem prosperado... e resposta para isto? não há, as coisas, pura e simplesmente, nem sempre se explicam... acontecem!
adorei o post. parabéns e boas férias!

João Roque disse...

Amigo Oz
Haveria tanto a dizer sob este teu tão oportuno, e como sempre, muito bem escrito, post.
Mais ainda, porque acabei, há horas, uma convivência de quase uma semana, com a pessoa que amo.
Tudo o que dizes, concordo contigo, tudo o que contas é importante e não pode aer esquecido. Mas o mais importante quando se vai passar umas férias com alguém que amamos, ou estamos na disposição de amar. é um misto de duas coisas, de que falas, numa delas muito bem, até, e que é a aceitação não planeada das coisas acontecerem naturalmente, pois "forçar a nota", é sempre mau; e depois, COMPARTILHAR, que é das mais belas palavras que conheço,pois assim, podem, naturalmente, obter-se, sem querer, respostas para muitas questões, para algumas dùvidas, para um entendimento muito mais agradável.
E falta falares em algo muito importante, que é o que sentiste quando essas fèrias compartilhadas acabaram; aí poderàs esclarecer as dúvidas que eventualmente ainda tenhas.
È bom, muito bom, meu amigo, ter férias com alguém de quem gostamos.
Um abraço forte.